Pandemia muda hábitos de consumo e setor de lácteos obtém resultados positivos mesmo durante a crise
A pandemia do novo coronavírus (Covid-19) abalou as estruturas de todo o mundo e trouxe impactos na renda de grande parte da população e mudanças no hábito de consumo. No Brasil, a cadeia produtiva do leite sofreu um baque no início da pandemia, principalmente, devido ao fechamento de bares e restaurantes. Meses depois do início das medidas de isolamento social, o mercado já se estabeleceu e o setor de lácteos comemora aumento de 5,3% no volume de vendas no primeiro semestre de 2020, em comparação ao mesmo período de 2019.
Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o setor de lácteos no Brasil vem obtendo resultados positivos e segue com demanda alta, explicada, principalmente, pelo pagamento do auxílio emergencial.
De acordo com pesquisadores da Embrapa, as pessoas que estavam na extrema pobreza tiveram grande impacto na renda com o recebimento do auxílio e passaram a consumir mais. Ao mesmo tempo, famílias com poder aquisitivo mais elevado transformaram os gastos antes dedicados ao lazer em compras no supermercado.
Preço ao produtor bate recorde
No campo, o preço do leite pago ao produtor na "Média Brasil" líquida do Cepea registrou alta acumulada real de 29,2% de janeiro a julho de 2020, segundo a edição de agosto do Boletim do Leite, publicado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea – Esalq/USP).
O avanço do preço neste ano foi acentuado pelo aumento de 15,7% observado de junho para julho, quando o valor ao produtor chegou a R$ 1,7573/litro, o maior registrado para um mês de julho e o segundo mais alto de toda a série histórica do Cepea, que data de 2004.
A valorização do leite se deve à maior competição entre as indústrias de laticínios para garantir a compra de matéria-prima nos últimos meses. A concorrência acirrada esteve atrelada à necessidade de se refazer estoques de derivados lácteos, em um momento de oferta limitada no campo e de recuperação da demanda.
Consumidor está preocupado com saúde, segurança e finanças
Preocupação relacionadas à saúde, segurança e finanças tem moldado o perfil dos consumidores brasileiros durante a pandemia do novo coronavírus e algumas transformações ocorridas nesse período podem continuar no pós-isolamento, principalmente na alimentação, segundo a pesquisadora Fernanda Geraldini Pamieri, do Cepea.
Para a especialista, as principais mudanças verificadas durante a quarentena são o aumento das refeições feitas no lar, concentrando a compra de alimentos no varejo tradicional, a busca por refeições rápidas e práticas, além da procura pelos chamados "alimentos indulgentes", ou seja, que trazem prazer, uma recompensa pelo estresse trazido no isolamento social.
A pesquisadora alerta que nem todos os brasileiros foram impactados da mesma forma pela pandemia e dois perfis de consumidores se destacam: os relativamente afetados e os que tiveram renda e despesas reduzidas. Se por um lado o primeiro grupo consegue manter seu padrão de compra, tentando, até mesmo, reproduzir experiências da alimentação em restaurantes dentro de casa, o segundo grupo tem mais dificuldades e prioriza gastos essenciais.
Segundo os pesquisadores da Embrapa, a preocupação agora é a queda no poder aquisitivo da população, que traz efeito direto no consumo de produtos com maior valor agregado como queijos, iogurtes e leite fermentado. Dados históricos, porém, mostram que a queda na renda não impacta na mesma proporção o consumo de lácteos. Ainda assim, essa redução do poder aquisitivo pode trazer como consequência ao setor uma reorganização da cadeia, com redução do número de produtores e laticínios maiores absorvendo os menores, em um movimento de concentração.
O que esperar no futuro?
Falar de futuro não tem sido tarefa fácil para analistas econômicos. Para Glauco Carvalho, pesquisador da Embrapa, é impossível fazer previsões a longo prazo em um cenário tão complexo. Entre os fatores que preocupam, estão a redução e fim do auxílio emergencial e o fim da entressafra do leite, o que reduzirá os preços pagos ao produtor.
A cautela dos especialistas em cravar o que virá no futuro também está nos consumidores. Segundo a pesquisadora do Cepea, a cautela continuará sendo a palavra-chave dos consumidores nos próximos meses em relação à saúde e à economia.
Mesmo com a flexibilização da quarentena na maioria das cidades, alguns hábitos adquiridos nesse período de pandemia devem ficar: alimentação dentro de casa com maior frequência, compras mais cautelosas e seletivas, retomada lenta do setor do food service (comida fora de casa) e de hotéis e manutenção das compras online, priorizando uma alimentação mais saudável. Com esses novos hábitos, os diversos setores da economia terão que continuar a se adaptar e com o setor de lácteos não será diferente.
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